Moda ainda ousa pouco ao lidar com os gêneros, acredita pesquisadora
Mestre em “Moda, arte e cultura” e pesquisadora de história da moda, a professora Mariana Tavares Rodrigues acredita que ainda há pouco
inovação na moda quando se fala em papeis de gênero. "Tem muito velho
pensando velho, muito jovem pensando velho, poucos jovens pensando o
novo", critica. Marina Rodrigues, professora do curso de Moda do Centro
Universitário UNA, participa hoje à noite da mesa "Moda, mídia e gênero:
tensões e ambiguidades na contemporaneidade", que integra o II Mês da Diversidade
Casa Una. A mesa ocorre às 19h, na Casa Una de Cultura (r. Aimorés, 1451 – Lourdes).
Gratuito, o evento tem lotação máxima de 60 pessoas.
Henrique VIII: o traje reforçando o masculino
A moda parece
ter oscilado, ao longo da história, entre reafirmar as diferenças entre os
gêneros e desconstruir essas diferenças. Essa impressão é correta?
Acho que esta impressão se
restringe ao século XX, nos anteriores, a moda reafirmava a diferença.
Em que momento
da história homens e mulheres foram opostos em sua maneira de vestir? Em que
momento, eles se vestiram de maneira próxima?
Falando de Ocidente: durante toda a Antiguidade clássica
e até bem para dentro da Idade Média, tanto as roupas de homens quanto as de
mulheres eram simplesmente túnicas sobre o corpo - mais compridas e decoradas
para os ricos, mais curtas e de tecido mais rústico para os pobres.
Entre os séculos XIII, XIV e XV, algo começou a mudar.
Essa mudança foi justamente o alargamento da sociedade ocidental, que se
aventurou pelo mundo afora, conheceu outros lugares e pessoas, e começou a
negociar com estes outros. Nesse momento, a moda, que só se mostra a partir da
circulação contínua de novidades (no caso moda em vestuário), aparece no
Ocidente, que já vinha se modificando, transformando sua economia, passando do
feudalismo para o mercantilismo.
O comércio era o grande gerador de negócios e, para
comerciar, era preciso viajar, conhecer os Outros. As cortes das cidades
estados italianas estavam se formando e as nações europeias vinham se
digladiando em direção ao poder monárquico absoluto. Há uma maior separação
entre os nobres e o "resto". Essa separação passa a ser reivindicada
através da cultura material: diferenças. Foi nesse momento que os homens
passaram a usar formalmente os calções: a primeira geração das nossas calças
compridas. Então, falando apenas das elites: mulheres com saias, muitas saias
que dificultavam a sua circulação; homens com os calções - peça bifurcada,
prática e ágil, que facilitava a sua circulação.
Mulher no séc. XIX: roupa proporcionava pouca mobilidade
Atualmente, em relação
à moda, avançamos em relação aos papeis de gênero? Qual grande tabu precisa
ainda cair?
Esse sistema que separa roupas de
homens e mulheres é antigo e se auto-alimenta. Em alguns lugares, como Londres
e Nova Iorque, mas acima de tudo, Londres, é comum ver nas ruas homens com
tecidos, estampas, cores, que até então eram apenas vistos em roupas de
mulheres. Mas a sociedade londrina não é muito coletiva, a obsessão com o eu
individual se espelha no uso da moda, ou seja, quebrando barreiras e tabus.
Isso não é algo restrito à comunidade gay. Os jovens já se apresentam menos
rígidos com modelos, unindo a ideia de moda à de auto-imagem (e a vaidade entra
aí também).
No Brasil, temos mais a ideia de
ser diferente porque faço parte de um grupo tal (e aí você tem dos eternos
funkeiros às patricinhas etc...). Repare que o nível de conformidade entre eles
é muito grande. Numa festa de patricinhas, todas estão iguais. Numa de
funkeiros, também. Os homens héteros, sem restringir o credo, também são, assim
como as populares do centro da cidade. O que une é o pertencimento. E para
pertencer tem que ser igual, mas só um pouquinho diferente.
O grupo que eu mais vejo ousando
são os gays. As lésbicas também parecem andar de uniforme. Algo de ousado
existe entre eles que gostam de cuidar da aparência, com níveis de
aprofundamento antes considerados femininos.
Talvez o passado patronal e
machista do Brasil venha interferindo até hoje no que é coisa de homem e coisa
de mulher. Para mim a nossa sociedade ainda não percebeu que não há diferenças
entre os sexos além das físicas, mas que essas não precisam estabelecer padrões tão antagônicos no consumo vestimentar. Ou seja, tem muito velho pensando velho, muito jovem
pensando velho, poucos jovens pensando o novo.
A professora Mariana Rodrigues
Mês da Diversidade: Mesa, nesta sexta, discute moda, publicidade e representações da mulher
Como a moda reforça nossas noções de homem e de mulher? Existe uma estética gay no modo de se vestir? Quando a publicidade torna-se abertamente machista? Essas e outras questões serão debatidas nesta sexta-feira, 4 de outubro, na mesa “Moda, mídia e gênero: tensões e ambiguidades na contemporaneidade”, que integra a programação do “II Mês da Diversidade Casa Una: manifestações de um mundo plural”.
O evento é gratuito e ocorre das 19h às 20h45. A lotação máxima é de 60
pessoas. A Casa Una localiza-se na rua Aimorés, 1.451 – Lourdes.
Saiba quem participará da mesa:
Aldo Clécius – Especialista em Moda e Marketing. Pesquisador e consultor.
Mestrando em Administração com pesquisa em estilo de vida. Professor do
Instituto de Comunicação e Artes da UNA.
Clara Teixeira – Professora do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário
UNA. Mestre em Artes pela Escola de Belas Artes da UFMG.
Mariana Tavares Rodrigues - Pesquisadora de
história da moda. Mestre em “Moda, arte e cultura”. Professora do curso de Moda
do Centro Universitário UNA.